No Brasil, já são mais de 900 mil casos por ano. Neurologista diz que doença na gestação pode provocar microcefalia.
Fonte: Jornal Nacional – Sífilis na gestação sobe de quase 8 mil para mais de 28 mil casos
Já postamos neste blog algumas vezes sobre esse assunto. Aproveito para compartilhar o comentário do editor do PromedMail, Dr. Rodrigo Bauru Angerami:
Preocupante, sim. Embora nada de novo…
Possivelmente uma associação de diversos fatores, dentre os quais se
incluiriam a falta de políticas/ações de prevenção mais efetivas,
falhas na detecção e/ou tratamento precoces do binômio
caso/parceiro(a), falha no diagnóstico e/ou tratamento de gestantes
durante o pré-natal e, não se pode descartar, a indisponibilidade,
por um longo período, da penicilina nas apresentações benzatina e
cristalina.Enquanto poder público e mídia, diariamente, atualizam os números
(muito dos quais, possivelmente superestimados) de microcefalia ainda
não confirmados como associados ao vírus Zika, nos últimos anos
(ver abaixo) o número de casos confirmados (e certamente subestimado)
de sífilis congênita não parecem causar (em grau minimamente
comparável ao que se observa em relação ao Zika) preocupação à
população, incômodo profissionais de saúde e vergonha às três
esferas do poder público.Milhões vêm sendo empregados para o desenvolvimento/aquisição de
testes moleculares para detecção do Zika. Centenas de reais vêm
sendo cobrados em laboratórios privados para o diagnóstico da
infecção pelo vírus “debutante”. Enquanto isso, os bons, antigos,
baratos e acessíveis testes para diagnóstico da “anciã” sífilis
estão amplamente distribuídos mas parecem não estar sendo
utilizados como deveriam: para a triagem ampliada, diagnóstico ágil
e acessível de casos suspeitos, investigação de parceiros.Pior. Outros muitos mais milhões de reais vêm sendo anunciados para
o desenvolvimento de vacinas candidatas e soro anti-Zika (!) para
tratamento de gestantes (!). Enquanto isso, além da falta de
abastecimento de uma lista composta por vários imunobiológicos
(incluindo-se vacinas contra hepatite B para recém-nascidos e soro
anti contra o letal vírus rábico), há uma escassez da quase
“octogenária” (e extremamente barata!) penicilina.O controle e eliminação de doenças negligenciadas (dentre as quais
a sífilis congênita) que já se mostravam objetivos pouco tangíveis
frente aos problemas, desigualdades e paradoxos já existentes (e bem
conhecidos), agora, ficam ainda menos exequíveis (e mais
negligenciados) com a emergência do Zika e companhia, que além de
receberem quase todas as atenções e causarem (o previsível) temor
frente ao desconhecido, canalizam enormes esforços e vultosos
investimentos, muitos dos quais motivados por interesses diversos
(científicos, econômicos e ,por que não, políticos)…Sobre os números: muito preocupantes, mas, antes de tudo,
vergonhosos.